Minha foto
Brasília, DF, Brazil
Jornalista, assessor de comunicação com passagem pelo WWF-Brasil, Contag, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Embrapa.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Quero ser Juiz de Direito - sem exigência de diploma

A decisão do STF, que dispensa o diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, me abre um mundo novo: a possibilidade de ser Juiz de Direito e, quem sabe, até alçar voo rumo ao próprio Supremo.

Sim, porque a decisão deixou claro que a minha profissão não exige diploma porque não são necessários conhecimentos técnicos ou científicos para o seu exercício. Disse mais: que o direito à expressão fica garantido a todos com tal “martelada”.

Tampouco a respeitabilíssima profissão de advogado e o não menos respeitável exercício do cargo de juiz pressupõem qualquer conhecimento técnico ou científico. Portanto me avoco o direito (e, mesmo, a obrigação), já que assim está decidido, de defender a sociedade brasileira diante dos tribunais e na própria condução de julgamentos.

Além de ser alfabetizado e, portanto, apto a ler, entender, decorar e interpretar nossos códigos e leis, tenho 52 anos (o que me dá experiência de vida e discernimento sobre o certo e o errado) e estudei – durante o curso de jornalismo (!) – filosofia, direito, psicologia social, antropologia e ética – entre outras disciplinas tão importantes quanto culinária ou moda: redação em jornalismo, estética e comunicação de massa, radiojornalismo, telejornalismo, jornalismo impresso etc.

Com essa bagagem e muita disposição, posso me dedicar aos estudos e concorrer às vagas de juiz pelo Brasil afora, em pé de igualdade com os colegas advogados. Também posso pagar e me dedicar aos cursos especializados em concursos públicos para o cargo, se eu julgar necessário. E não é justo que me exijam, em momento algum, qualquer diploma ao candidatar-me ao cargo.
Afinal, se a pena de um jornalista não pode causar mal à sociedade (!!?), a de um juiz também não teria este poder de fogo. As leis – e elas são justas em si – existem para serem cumpridas e cabe a um juiz, tão somente – usando da simplicidade do STF – seguir a “receita de bolo” descrita pelos nossos códigos. Assim sendo, um juiz não pode causar mal algum a ninguém, se seguir, estritamente, o que determina a lei. Concordamos?

Data venia, meus colegas advogados, por quem nutro o devido respeito (minha mãe, cunhada, irmão e sobrinha – por favor, compreendam), quero ser juiz porque é um direito meu, assegurado pelo STF, e o salário de jornalista não está lá estas coisas.

14 comentários:

Maria Teresa Costa disse...

Lamento muito, Waldemar, mas acho que suas chances de ser juiz, no próximo concurso, são mínimas. Eu também vou disputar a vaga e, cá entre nós, estou preparadíssima para a função, porque durante anos tenho feito reportagens que exigem conhecimento da legislação. Assim, meu caro, trate de se preparar, porque a vaga já é minha
grande abraço

Maria Teresa Costa
Repórter
Correio Popular – Campinas

Fábio Pellegrini disse...

Parabéns pelo oportuno texto. Vale lembrar também da função social do jornalista é de grande responsabilidade. Nós, devidamente formados, temos compromisso com a regência de nossa língua (se bem que muitos formados não dão a mínima a ela). Então, com a decisão do STF, qualquer blogueiro tem poderes de informar e ser o dono da verdade. É a banalização da informação...

Saudações cordiais,

Fabio Pellegrini
Jornalista e Publicitário
Especialista em Imagem e Som

Luciano Martins disse...

Ah, não! Se você tentar, por exemplo, intermediar a venda de um apartamento, pode ser processado por exercício ilegal da profissão de corretor.
Proponho uma alternativa: associe-se a mim e vamos criar cursos de Jornalismo Prático para não diplomados em jornalismo.
Acho que uma carga horária de 40 horas-aula é mais do que suficiente para ensinar a fazer o jornalismo que encontramos hoje na grande mídia.
Um abraço
Luciano Martins

Cristina Monte disse...

Prezado colega de profissão,

após sua análise só posso concordar com o exposto.
Sou a favor da liberdade de expressão e a favor de que - os "interlocutores" da sociedade sejam pessoas com base técnica e científica para exercer tal função. Afinal, não transmitimos o que "achamos" do mundo, das pessoas, do governo....Procuramos, na leitura do ocorrido, na interpretação do exposto, na responsabilidade do que estamos lidando - repassar à sociedade a informação mais próxima da realidade...

É um equívoco colocar os jornalistas em pé de igualdade com pessoas que, além da falta de qualificação requisitada - me recordo muito bem das aulas de filosofia, antropologia, ética, entre tantas outras de consistência suficiente para embasar tudo o que se aprende depois disso, não têm, por conta da inexistência dessa base, a conscientização do importante papel que desempenha o profissional da Comunicação Social. Acham que é tudo fácil e simples....


Concordo com suas opiniões, mas com todo o respeito, prefiro continuar no ofício....duro, desacreditado, que paga pouco - do que enveredar para outros caminhos que "nem sempre" são éticos, sérios e justos - é da essência do jornalista..procurar...sempre, sempre caminhos nem tão fáceis, mas que o fazem (ou pensam fazer) dormir com a alegria do dever cumprido...
Na verdade, acho mesmo que jornalista é um cara teimoso, mas convicto...

Que abram as porteiras.....os bons sempre se destacarão!!
Abraços,

Cristina Monte

Alexandre Montenegro disse...

A parte na qual o amigo do Daniel Dantas compara um jornalista a um cozinheiro foi a segunda mais bizarra dessa história!
A primeira mais bizarra foi a de ver essa insanidade ser aprovada praticamente por unanimidade pelo STF!
Amanhã mesmo vão começar a ser abertos os cursos básicos de redação e jornalismo!
Mas nem com isso muitos meios de comunicação vão se preocupar.
Preparemo-nos pras pérolas dos jornalistas-sem-diploma que vêm por aí!

Evaldo Castro disse...

Agora faço o quê?

Fui adolescente um dia e também tive sonhos de mudar o mundo. Escolhi o jornalismo sem nenhuma crise vocacional, bastante comum nesta fase da vida. Meu querido pai tentou argumentar que não se tratava de uma profissão séria e capaz de garantir o futuro de alguém. Argumentei com veemência que sabia estar certo sobre a minha escolha e tudo se resolveu.

Nesta quarta-feira, dia 17 de junho de 2009, quase 30 anos depois, finalmente entendi o que ele tentava me dizer naquele momento. Praticamente sem estudo, mas com uma sabedoria invejável que fez com que criasse nove filhos entre eles, médico, professores, advogado e jornalista, provavelmente meu velho pai imaginou que, como se tratava de uma atividade onde o sentido de classe, de categoria, nunca foi muito forte, onde ninguém era chamado de Doutor, não seria uma boa profissão. E, quer saber, talvez venha daí uma parcela de explicação sobre o que ocorreu no Supremo Tribunal Federal.

Já tinha tido insights ao longo destas últimas décadas sobre o jornalismo. Toda vez que me deparava neste Brasil afora, em localidades onde pude trabalhar, com as tentativas patronais de esvaziamento da atividade jornalística, com a falta de sentido de categoria por parte dos próprios profissionais, com os salários aviltantes, com representantes sindicais que representavam mais a si mesmos do que qualquer outra coisa questionava-me sobre a escolha feita. Mesmo assim, segui em frente, acreditando ser um daqueles instantes que muita gente vivencia acerca de sua escolha profissional e que estava errado.

Mas ver o jovem presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Daniel Pimentel, que por sinal é formado em Administração de Empresas e neto do ex-governador e ex-vice-presidente da mesma entidade, Paulo Pimentel, dar entrevista sobre o fim da exigência do diploma, cheio de erros de concordância, foi demais para mim. Ver como a Vênus Platinada cobriu o assunto só fez em crescer em mima a certeza de que o fim do diploma interessa, antes de tudo, às grandes corporações do setor.

As justificativas bizarras do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, para defender o fim da obrigatoriedade do diploma foi outro duro golpe. Mais do que estupefação com o baixo nível da argumentação, que me levou ao questionamento sobre ele ter mesmo estudado com mínima profundidade o caso, ouvir dele que “a profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia - nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão”, foi uma estocada tão ágil quanto traiçoeira.

Evaldo Castro disse...

O jornalismo causa danos tão amplos e profundos quanto aqueles que, estruturalmente mal calculados por um péssimo engenheiro, levam a queda de uma ponte ou erro médico que destrói física e emocionalmente uma vida. A incompetência ou má fé nossa, como jornalista, pode também destruir vidas de um dia para noite. Alguém aí discorda que os envolvidos na matéria da Escola Base, em São Paulo, veiculada pela TV Globo, que os mencionou, sem nenhuma prova, como molestadores de crianças, não tiveram suas vidas arruinadas para sempre? Somente 10 anos depois provaram sua inocência, com direito a receber indenização.

Sempre defendi que o diploma de jornalismo por si só nunca fará com que alguém se torne um bom jornalista. É preciso muito mais para a formação profissional, mas passar pelos bancos acadêmicos é fundamental para quem pretenda sê-lo um dia. Ouvi em todo este processo uma série de baboseiras de quem pretendia fazer com que a atividade jornalística não fosse exclusiva de quem é diplomado. Uma delas é de que a qualidade dos cursos era sofrível. Parecia sempre que isso era uma realidade somente para as faculdades de Comunicação. Medicina, engenharia, ou quaisquer outras áreas, não conviviam com o baixo nível educacional brasileiro.

Pautado num desencantamento pessoal com a atividade jornalística e numa luta que sabia difícil contra interesses muito fortes, no fundo já esperava o fim da obrigatoriedade do diploma. Sem estar otimista quanto a regulamentação da profissão ou a criação de um Conselho de Comunicação Social, agora o repasse das técnicas da profissão ficará, como muitos sempre quiseram, restrito em boa parte aos cursinhos de treinamento das empresas de comunicação. Parte dos princípios éticos da profissão serão repassados por aqueles que realmente acreditam que o jornalismo é, acima de tudo, um negócio.

Resta agora ao nosso jornalismo se reinventar, diante das novas tecnologias da comunicação e desta “possibilidade” de todos se tornarem difusores de notícia e de análise sobre fatos. Quanto à luta pela dignidade da profissão, isso, fica para algum dia, quando, segundo o STF, meu diploma de jornalista, tão arduamente conquistado na Universidade Metodista de São Bernardo do Campo, em São Paulo, em 1985, assim como de todos os demais colegas, não significar “cerceamento à liberdade de expressão”.

Evaldo Castro disse...

Portanto, senhor Ministro Gilmar Mendes, não diga que “a profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia - nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão”. O senhor, que não crê mesmo que a profissão é tão inofensiva assim e só é mais um dos muitos poderosos que também já reclamaram ou reclamaram da imprensa. Não sei se agora, sem a obrigatoriedade de fazer uma faculdade, não conviveremos com “profissionais” que exercerão a profissão sem critérios e sem se responsabilizar pelas conseqüências de sua produção, uma vez que elas podem ser imensas.

Anônimo disse...

Simplesmente genial. Acho ótimo que se abra esse leque de possibilidades. Um amigo meu disse hoje, inclusive, que vai conseguir realizar seu sonho de se tornar um neurocirurgião, já que está aberta a jurisprudência.
Viva a diversidade!
Ainda estou em dúvida de qual será minha nova profissão... to pensando em engenharia. Nada que a regra de três não dê conta!
Viva o Gilmar Mendes!

Gabriel Sá disse...

Uia Gadelha! Nem sabia que tu tava com um blog e pah!
hehe, achei irado seu texto e tals! =D
Realmente essas tretas com o ensino superior na area de jornalismo é um fiasco mesmo x_x
Anyuai, a gente papeia depois.
Abraços

Aninha Santos disse...

Olá Gadelha; recebi sua visita no meu blog, onde republiquei seu texto e só então percebi que tinha publicado sem a sua permissão, coisa que normalmente não faço. Desculpe não sabia onde encontrá-lo.

Na verdade recebi o texto de um amigo, por e-mail, e achei tão bacana que quis compartilhar com meus leitores.

Um abraço

Ana Santos
Jornalista e sonhadora.

Gadelha Neto disse...

Problema nenhum Aninha. E quem mais resolver publicar já está, desde já, autorizado! Vamos seguir em frente. Não dá pra parar sentar e chorar...
Abs
Gadelha

Anônimo disse...

Pago, mas PAGO pra ver qual jornalista seria aprovado em um concurso público para qualquer cargo privativo de bacharel. Já o contrário... não é um advogado capaz de escrever um editorial ou uma reportagem? Certamente, se o fizesse, não escorregaria em conceitos tão básicos da ciência do Direito quanto aqueles em que se perdeu o autor. Lei não é "receita de bolo" e ser juiz é muito mais do que decorar texto legal. A interpretação então...
Esses são os jornalistas: escrevem sobre tudo, mas não entendem a fundo sobre nada.
Aos jornalistas, por seu curso de nível superior, meus pêsames.

Gadelha Neto disse...

Caro(a) Anônimo,

Todos, mas TODOS têm capacidade de aprender meu (minha) caro(a)anônimo. A menos que você julgue advogados e juízes seres que pairam acima e além dos mortais, como jornalistas, por exemplo.

Aliás, nunca vi nada escrito por advogados para jornal que valesse a pena ser lido por leitores mortais.

A empáfia com que você escreve a nosso respeito acho que contamina o texto daqueles que se atrevem a tal. E falo de cadeira: meus parentes e amigos mais queridos - que são advogados - não querem nem nunca se atreveram a bancar jornalistas.

E mais: sua opinião sobre jornalista não passa, mais uma vez, de um preconceito mal disfarçado de quem pensa ser melhor que os outros.