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Brasília, DF, Brazil
Jornalista, assessor de comunicação com passagem pelo WWF-Brasil, Contag, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Embrapa.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Tocantins-Araguaia: energia x conservação

Venho acompanhando, desde ontem, o II Seminário Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Alto Tocantins, organizado pelo WWF-Brasil, Ecodata e Conágua. O objetivo do evento é "contribuir para o diálogo entre os diversos setores e atores na área de recursos hídricos e energia e identificar possíveis 'zonas' de convergência e divergência política e técnica na gestão dos recursos hídricos e a sua interface com a geração de energia na Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia, em especial, na Bacia do Alto-Tocantins".

Embora, no todo, as apresentações até agora tenham sido proveitosas, por enquanto pouco se viu de debate propriamente dito. Cada qual já vem com seu tema pronto e pouco há, até o momento, de debate entre as idéias apresentadas.

Samuel Barrêto, limnologista e coordenador do Programa Água para a Vida, do WWF-Brasil, argumenta que o a idéia do seminário é identificar minimamente os atores, suas demandas e áreas em que o entendimento é possível, buscando o mínimo de convergência que permita a construção de um senso comum na identificação de alternativas para compatibilizar conservação ambiental, bem estar e inclusão social, segurança energética e crescimento econômico na bacia.

Se assim o é, o seminário está bem encaminhado, mas, para leigos como eu, que parece diálogo de surdos, parece.

O tema é de enorme importância para os ecossistemas aquáticos dos rios Araguaia e Tocantins, uma vez que a região é identificada como a de maior potencial para a produção futura de energia elétrica - leia-se hidroelétrica. Os ambientalistas argumentam que, se todo esse potencial for instalado, haverá alterações na fauna, flora, clima, solo, na qualidade e disponibilidade de água, e impactos ambientais acumulativos - barragem sobre barragem - capazes de alterar a dinâmica hidrológica e limnológica dessa bacia, que cobre 10% do território nacional.

Tudo isto sem contar com o desplazamiento, como dizem os espanhóis, ou seja a remoção de populações ribeirinhas que, mesmo quando devidamente indenizadas (o que não costuma ocorrer), perdem referências culturais e sociais.

O fato é que, como argumentou o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Gerson Kelman, vamos precisar de energia elétrica no futuro. Para ele, a sociedade brasileira vai ter que escolher que custo (ambiental e financeiro) deseja pagar, seja com hidrelétricas, com termoelétricas (carvão ou gás), energia eolica ou solar. Estas duas últimas, diga-se ainda são mero sonho para atendimento a tamanha demanda.

E ele tem razão, em parte. O Seminário pretende justamente identificar estas questões. Digo em parte porque ele mesmo avisou que a sociedade (que teoricamente estaria representada nos comitês de bacia) não decide questões estratégicas nacionais. "Não pode um comitê de bacia decidir que a energia que vai atender a todos os brasileiros não pode ser produzida em seu território", argumenta. Aliás, foi este o raciocínio que norteou o atropelamento do Comitê de Bacia do Rio São Francisco quando da discussão da transposição...

Relatórios - Hoje, à tarde, serão apresentados os relatórios dos "debates". Ali, talvez possamos identificar algum avanço neste entendimento entre partes tão diversas. Prometo, ao invés de simplesmente comentar, disponibilizar os relatórios em PDF, para que você leitor, faça sua avaliação. Enquanto isto, veja a programação em http://www.tocantinsaraguaia.blogspot.com/. Até a próxima.