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Brasília, DF, Brazil
Jornalista, assessor de comunicação com passagem pelo WWF-Brasil, Contag, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Embrapa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Duas secas recordes em cinco anos na Amazônia

Por mais céticos que possamos ser, é preciso prestar atenção aos sinais de que os cientistas do IPCC podem estar certos, e que é passada a hora de agir. Foto: © Nigel Dickinson / WWF-Canon


Em 2005, o mundo olhava estarrecido para imagens impensáveis de uma Amazônia seca, com embarcações encalhadas em meio ao nada.  Como era possível uma região que encerra 1/5 da água do planeta secar desta forma? Afinal a planície amazônica, de 700.000km2, é a maior área de floresta inundável da terra!

Seca igual só havia ocorrido 63 anos antes e os cientistas explicavam que uma série de coincidências climáticas foi responsável pelo fenômeno.

Bem, apenas cinco(!) anos depois, voltamos a assistir às mesmas cenas de desolação, que já atingem cerca de 44 mil famílias, principalmente de ribeirinhos, que dependem dos rios para comer, plantar, criar e locomover-se pela imensidão da selva.

Uma vez mais, o rigor científico nos impede de relacionar dois eventos tão dramáticos – e tão próximos entre si na linha do tempo – às mudanças climáticas, por mais evidentes que os sinais se nos apresentem.

Entretanto, podemos parar e refletir um pouco.

Cientistas do mundo todo, reunidos em torno do Painel Internacional de Mudanças Climáticas da ONU, vêm nos alertando para o fato de que um dos efeitos do aquecimento global é justamente o agravamento dos eventos climáticos extremos e o aumento da frequência com que passarão a ocorrer.

E mais: se as emissões de gases de efeito estufa fossem eliminadas neste exato momento, ainda assim o planeta seria aquecido em 2ºC nos próximos anos, com os mesmos efeitos.

Então não há nada a fazer? Sim. Há, e muito, a fazer. 

Conservando o futuro – Em primeiro lugar, é preciso estancar as emissões de gases de efeito estufa, que, no Brasil, são, em sua maior parte, resultado do desmatamento, principalmente da floresta amazônica e do cerrado – nossos dois maiores biomas.

Em segundo lugar, uma vez que o aquecimento de até 2ºC é inevitável, é preciso que se adotem medidas de adaptação às mudanças climáticas, que tanto podem envolver obras físicas – como, por exemplo diques e barreiras contra inundações e reservatórios de água para enfrentar a estiagem –, como também medidas de adaptação com base na conservação, como o WWF-Brasil preconiza.

A adaptação com base na conservação prevê a proteção de áreas como nascentes, cabeceiras, topos de morro, florestas etc. Protegendo a natureza, é possível aumentar sua resiliência – palavra “emprestada” da física que traduz a capacidade de um corpo ou sistema de readquirir suas formas e funções originais após um determinado impacto.

A natureza sabe fazer a parte dela e nós, que precisamos da natureza para viver, devemos fazer a nossa parte, reduzindo nossa pegada ecológica, praticando o consumo consciente e exigindo energicamente que todas as instâncias de governo tomem as medidas de conservação necessárias, como a criação de unidades de conservação (parques, reservas, áreas protegidas) e o estrito e severo cumprimento das leis ambientais existentes.

Ah! Também vale sair em defesa do nosso atual Código Florestal, que está ameaçado de mudanças.  Mas isto é assunto pra outro blog...

Nossa atitude agora vai decidir com que gravidade os eventos climáticos atingirão nossos filhos e netos.

Posted via email from Blog do Gadelha Neto